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Foto do escritorAlexandra Luz

Ai que o meu filho não come!


Esta é a frase que muitas e muitas vezes ouvimos na consulta de pediatria... uma das grandes preocupações dos pais é a alimentação dos seus filhos, pois todos nós, mesmo inconscientemente, associamos o comer "bem" ao facto de ser saudável, e de crescer adequadamente. E daí segue, que quando a criança por algum motivo altera o seu padrão de alimentação, a associação mais rápida será dizer que se passa algo de errado com ela, certamente estará doente!

Ora se bem que um caso não são todos os casos, existe uma situação particular que faz parte do normal "desenvolvimento" e crescimento da criança, a que chamamos a "anorexia fisiológica do segundo ano de vida". E é tão frequente esta situação, que mesmo nos pontos a abordar na consulta dos 12 meses, lá surge esse item, no Boletim de Saúde Infantil! Só que no meio de todas as informações, de toda a avaliação que tem de ser feita, às vezes passa um pouco despercebida... e depois acaba por ser uma fonte de preocupação para os pais, que se deparam no dia a dia com esta "novidade".

Então, mas afinal o que é isto da "anorexia fisiológica do 2º ano de vida"? Bom, durante o 1º ano de vida, o ritmo de crescimento do bebé é avassalador... é um dos períodos de vida (a par, por exemplo, com a altura da puberdade) em que mais se cresce. Isto faz com que as necessidades alimentares nesta altura sejam "proporcionalmente" maiores, para assegurar um crescimento adequado. Por volta dos 12 meses, este ritmo de crescimento começa a ser mais lento, e o organismo da criança tem de se "readaptar" às novas necessidades, pelo que pode acontecer uma diminuição mais ou menos abrupta (depende de cada criança, claro) da quantidade que a criança ingere. E se os pais não estiverem alertados para esta situação, por um lado, poderão pensar que a criança está com algum problema de saúde, e por outro, tentarão compensar esta "diminuição do apetite" recorrendo a estratégias que acabam por poder ser prejudiciais para o relacionamento da criança com a comida. Falo por exemplo, de tentar oferecer alimentos mais doces, ou snacks entre as refeições, ou "forçar" a criança a comer, castigando-a ou por outro lado prometendo recompensas. Nada disto ajuda, e pode, tal como disse anteriormente, ser mesmo prejudicial para o próprio desenvolvimento da criança. Assim, deve-se tentar manter a alimentação saudável, tendo em conta os horários e os limites aceitáveis para uma refeição, mas também respeitando o apetite da criança, nunca substituindo alimentos saudáveis por outros apenas com o intuito de que a criança coma mais. Sempre que possível a criança (mesmo as mais pequeninas já gostam disto!) deve ser envolvida no processo da refeição, que deve ser um momento de partilha com a família, e de prazer, e não um autêntico "palco de guerra"! Nada é tão bom a demonstrar que uma criança está bem como um crescimento e um desenvolvimento saudáveis, e crianças felizes fazem famílias felizes. Assim, se lhe parece que a sua criança está a passar por algo semelhante ao que eu estou a descrever, é muito provável que seja isto mesmo, e em caso de dúvida, siga sempre o aconselhamento do seu médico assistente, que é quem conhece melhor a família e as suas características!

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