Hoje devo confessar-vos que estou apreensiva. É domingo, um dia tradicional de família que começou da maneira tradicional ao fim de semana neste confinamento...levantar antes dos miúdos, comer panquecas ao pequeno almoço, jogar em família durante a manhã... Faço o almoço (canja e pernas de galinha no forno, é sempre um sucesso cá em casa), e agora, enquanto um miúdo dorme a sesta o outro prepara os trabalhos de casa que foram mandados para as férias, pois amanhã é dia de escola. E é mesmo este primeiro dia de escola que me deixa apreensiva. A experiência do último confinamento não foi boa para nós. Separámo-nos enquanto família, conciliamos teletrabalho com trabalho presencial, ensino a distância com atividades da pré-escola. Foi duro. Para nós, e para tantos outros ainda mais, sei-o bem. Lembro-me de confessar à professora do meu filho mais velho que no último dia de Zoom, em junho, quando consegui finalmente desligar o computador do miúdo, depois do que pareceram dias intermináveis, até chorei. De alívio. Fui mãe, professora, pediatra, tudo ao mesmo tempo. Os limites de cada um destes papéis fundiram-se e de certa forma perdi um pouco de mim enquanto mulher e enquanto esposa. O contexto a isso obrigava. E por isso hoje estou "com borboletas no estômago". Com receio do próximo tempo de confinamento. E de como os meus filhos vão lidar novamente com o facto de estarem em casa em ensino a distância, ou nas atividades da pré, enquanto a mãe continua a fazer as teleconsultas que a isso o seu dever profissional a impele (não consigo deixar de estar com os "outros meus meninos" e as minhas "outras famílias"). São todos "meus", à sua maneira. Uns mais perto do coração, outros mais perto da razão.
Não somos uma família perfeita, somos uma família que se apoia nas decisões, em que a mãe às vezes também se irrita, o pai às vezes também perde a paciência, e os filhos às vezes se comportam como índios e nos levam quase ao limite. Em que ir levar o lixo a pé até lá acima à reciclagem é uma rotina familiar, tão apreciada como jogar ao stop com animais... onde os quartos dos miúdos têm livros de histórias de encantar, o sótão tem os álbuns de fotografias de quando a mãe era pequena, e onde se faz a caça ao tesouro.
Assim somos nós. Para o bem e para o mal. Procurando "sobreviver" a este confinamento sem perder o que nos torna humanos, seres pensantes, com autocrítica, algum sentido de humor, valores fundamentais e generosidade para com o próximo. E a todos desejamos o mesmo, mesmo com a desigualdade que clivou esta sociedade ainda mais durante o confinamento. Vamos procurar ajudar quem está à nossa volta. Porque todos nós, em alguma altura das nossas vidas, também já precisámos de ajuda.
Da vossa, Alexandra Luz, 7 de fevereiro de 2021
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