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Para os pais... Epilepsia na idade pediátrica

Foto do escritor: Alexandra LuzAlexandra Luz

A epilepsia é uma doença que, tal como muitas outras, também atinge a idade pediátrica. E consegue ser uma fonte de ansiedade importante para as famílias, para a criança ou adolescente, e para todos os cuidadores, principalmente quando as crises são imprevisíveis e não estão controladas. Para todos aprendermos um pouco mais sobre este assunto, convidei a Drª Joana Amaral, que é Pediatra no Hospital Pediátrico de Coimbra, e está atualmente em formação no ciclo de estudos de neuropediatria. Aqui ficam as suas reflexões, que espero serem úteis para todos.



O que é a epilepsia?

A epilepsia é a doença neurológica mais frequente em idade pediátrica, com uma incidência em até uma por cada 100 crianças. Caracteriza-se clinicamente pela ocorrência de crises. Epilepsia e crises epiléticas correspondem a situações clínicas diferentes, pois uma crise consiste num evento limitado no tempo, enquanto que a epilepsia corresponde a uma doença que se expressa por crises epiléticas que se repetem no tempo e mediante determinadas condicionantes


Porque acontece?

Esta doença resulta de descargas excessivas e sincronizadas por parte de um grupo de neurónios, com consequentemente mimetização de uma função cerebral. Por outras palavras, o cérebro funciona como uma “rede elétrica”, com inúmeros pontos de transmissão de “eletricidade”, sendo que o que se verifica nesta doença é a ocorrência de “curto circuitos” que, pela grande descarga de energia numa zona responsável por uma determinada função, imitam as capacidades do cérebro. Desta forma, numa crise epilética podemos verificar as mais variadas manifestações, nomeadamente alterações da consciência, movimentos anormais involuntários, alterações da sensibilidade, das sensações, da perceção e do comportamento.

Existem variadas causas de epilepsia, entre estas, causas estruturais, genéticas e metabólicas.


O que se sabe sobre este assunto?

Nas últimas décadas o entendimento da epilepsia foi sofrendo atualizações que têm permitido um melhor conhecimento de todas as suas formas de apresentação. A sua definição segue as mais atualizadas recomendações da International League Against Epilepsy (ILAE), que consiste num grupo de especialistas que reúne o conhecimento mais recente e orienta os médicos desta área a nível internacional. Nos países desenvolvidos, constatam-se dois picos de idade em que se regista um maior número de casos de epilepsia: durante os primeiros anos de vida, decrescendo ao longo da infância e adolescência, voltando a subir depois dos 65 anos de idade. Existem vários tipos de síndromes epiléticos com manifestações em idade pediátrica, entre os quais se destaca a epilepsia rolândica benigna, as ausências infantis, que contabiliza cerca de 10 a 12% dos casos.


Como se apresenta?

São vários os termos associados a crises epiléticas: ausências (paragem súbita da atividade), mioclónicas (contrações musculares rápidas), atónicas (perda total de força), tónicas (contração de grupos musculares de duração mais longa) e tónicoclónicas (contração de grupos musculares e movimentos rítmicos associados, de duração mais longa).


Como se diagnostica?

O diagnóstico é feito com base na avaliação dos sinais clínicos, apoiados por registos de eletroencefalograma. Neste exame, que permite registar a atividade elétrica cerebral no momento, colocam-se elétrodos no couro cabeludo sobre as diferentes áreas do cérebro, registando os padrões típicos ou atípicos destas áreas.


E se o meu filho tiver uma crise na escola?

Os pais devem alertar os responsáveis na escola à possibilidade de ocorrência de crises na escola. Mediante esta ocorrência, deve contactar-se o 112 e a criança deve ser colocada em posição lateral de segurança. Nunca, em momento algum, se devem colocar dedos dentro da boca da criança para tentar controlar a língua (trata-se de um mito que põe a vida da criança em risco).


Como se trata?

O seu tratamento é dependente da situação clínica de cada criança. Em alguns casos opta-se por não medicar, noutras por tratamento em SOS das crises (com a aplicação de medicação rectal, utilizando um dispositivo semelhante a um clister) e em casos mais complexos recorre-se ao tratamento medicamentoso. Existem variadas hipóteses de tratamento farmacológico, amplamente conhecidas e estudadas ao longo de décadas, que assim conferem um grau de segurança adequado ao médico e à família.


É uma doença que tem cura?

Existem vários tipos de epilepsia em idade pediátrica. Um dos mais comuns é a epilepsia benigna da infância que, tal como o próprio nome indica, ocorre na infância e tem um curso benigno, com resolução prevista no tempo. Nos restantes casos, depende da evolução da epilepsia em cada criança. De uma maneira geral, é possível um bom controlo da doença, permitindo uma boa qualidade de vida individualmente.


Novos conhecimentos científicos

Ao longo das últimas décadas, a investigação no contexto da epilepsia sofreu um enorme desenvolvimento científico. Existem vários medicamentos disponíveis para o controlo das crises, permitindo ao médico optar entre os fármacos clássicos e/ou de nova geração, mediante a resposta do doente. Cada vez mais tem sido possível atingir o controlo das crises, permitindo uma boa qualidade de vida do doente e uma melhoria da dinâmica familiar. Atualmente em Portugal existem centros de referência da epilepsia em idade pediátrica, para os quais são referenciados os casos de difícil controlo.


Como posso saber mais?

Para mais informações consultar:

https://neuropediatria.pt/index.php/pt/para-os-pais/o-que-e-a-epilepsia

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