Era uma vez um pai de primeira viagem que decidiu enfrentar o desafio de trocar a fralda do seu bebé sozinho pela primeira vez. Ele preparou tudo meticulosamente, leu todos os manuais e assistiu inclusivamente a vários vídeos e tutoriais. Sentindo-se enfim confiante, ele colocou seu bebé no fraldário, retirou a fralda suja e, no exato momento em que estava prestes a colocar a fralda limpa, o (será mesmo?) inesperado aconteceu.
O bebé, com o maior sorriso do mundo, decidiu mostrar suas habilidades de "regador" bem na direção do pai. Apanhado de surpresa e ainda sorrindo, o pai rapidamente tentou colocar a fralda, mas não antes de o bebé conseguir "decorar" não só o pai, mas também todo o bonito papel de parede atrás dele.
Soa familiar a alguém? Bom, a mim certamente que soa, como mãe e pediatra!
Pois é, então hoje decidi falar de um assunto que apesar de ser uma rotina diária, e parecer fácil, também tem os seus truques e segredos – a higiene da zona da fralda. Com isto pretendo que possam tornar esta tarefa o mais eficiente, ajustada, e segura possível para o vosso bebé (e se calhar, também para vocês!).
Ponto 1. Material necessário
Esta lista é quase como uma lista de verdadeira sobrevivência. Vamos então ver o que deve constar do nosso material:
- fraldas adequadas: é importante escolher as fraldas do tamanho certo para o seu bebé. Se por um lado, fraldas pequenas podem ficar apertadas e deixar marcas na pele do bebé (e serem desconfortáveis), quando usamos fraldas demasiado grandes corremos o risco de a urina ou o cocó poderem extravasar pelas bordas.
- compressas humedecidas ou algodão com água morna: sem dúvida o preferível para maior parte dos bebés, para uma limpeza suave.
- saco/balde para descarte da fralda suja: para manter o ambiente limpo e livre de cheiros.
- Fraldário ou superfície de troca limpa e segura: de forma a ser confortável para o bebé, e para quem lhe troca a fralda.
Ponto 2. Escolher a fralda certa
Em cima já falei da importância do tamanho. Mas agora vou falar do que ter em conta quando escolhemos as fraldas para o nosso bebé. Todos sabemos que existem múltiplas marcas e tipos de fraldas disponíveis, cada uma com os seus argumentos próprios. Uma das primeiras decisões pode ter a ver com a escolha entre fraldas descartáveis, ou fraldas reutilizáveis. Na realidade, a maioria dos pais opta pelas descartáveis, por serem práticas, mas é importante saber quais as vantagens e desvantagens de cada uma na altura de optar.
As fraldas descartáveis são definitivamente muito práticas para usar e descartar, especialmente no exterior. Têm uma elevada capacidade de absorção, o que na prática acaba por reduzir o risco de extravasamento, e contribui para manter a pele do bebé mais seca. São fáceis de colocar e retirar (se a criança está em modo colaborativo, naturalmente!). Depois, em termos de variedade, existe uma ampla variedade de tamanhos, tipos e preços, adaptada a diversas necessidades e faixas etárias.
Nos seus pontos negativos, temos de referir o impacto ambiental que têm – acabam por ser um contributo significativo em termos de aterros sanitários, pois levam muitos anos para se degradarem. Depois, são geralmente mais dispendiosas a longo prazo, pois são consumíveis de uso (muito muito) regular. Também há a referir que alguns dos seus componentes podem desencadear reações de contacto da pele do bebé mais sensível, e que podem ainda não ser tão respiráveis como as fraldas reutilizáveis, o que poderá para alguns bebés aumentar o risco de assadura da zona da fralda.
Falando agora das fraldas reutilizáveis, em termos de vantagens, claramente são muito mais amigas do ambiente, e economicamente vantajosas – apesar de mais caras inicialmente, a longo prazo este custo dilui-se muito. Globalmente parecem não causar tantas reações de contacto com a pele do bebé, pelos materiais usados geralmente no seu fabrico, e muitas vezes são completamente personalizáveis, o que os pais podem adaptar ao estilo e necessidades do bebé.
Em termos de desvantagens, vão exigir uma lavagem regular (mais trabalho, e não se esqueçam do consumo de água e energia), são menos práticas em viagens e no exterior, podem necessitar de ser complementadas com outros acessórios (como capas impermeáveis), e via de regra exigem mais algum tempo para o cuidador aprender a colocá-las corretamente, e evitar “acidentes”.
Ponto 3. O processo da troca da fralda
Em primeiro lugar, assegurar a segurança da superfície onde vamos trocar o bebé. Depois, verificar se temos todo o material acessível. O passo seguinte é remover com cuidado a fralda suja, e limpar a área da fralda cuidadosamente com as compressas humedecidas ou algodão humedecido em água morna, sempre com o movimento de frente para trás. É importante evitar fricção demasiada neste processo, e nem sempre é necessário retirar até ao último resquício a pomada que eventualmente colocámos anteriormente, pois com o esforço podemos também arrastar a camada protetora superficial da pele. Finalmente, colocar a fralda limpa e fechá-la, verificando cuidadosamente as abas das pernas para verificar se está bem ajustada.
Ponto 4. Devo usar toalhetes ou água para a limpeza da zona da fralda?
Boa questão. Antes de mais, a ideia principal a passar é que a melhor maneira de evitar as assaduras é manter a pele do bebé seca e limpa, trocando frequentemente a fralda. Depois, a escolha entre água, toalhitas ou óleos de limpeza para a higiene local deve ser adaptada às necessidades do bebé, e escolha da família.
A água é a opção mais simples, económica, e natural para a limpeza da pele do bebé. É segura para todos os tipos de pele, mesmo sensíveis ou propensas a reações. Não tem outros constituintes que possam (fragrâncias, conservantes, químicos) que podem ser irritantes, e é geralmente suficiente para fazer uma boa limpeza.
As toalhitas são, por outro lado, muito práticas, especialmente para uso fora de casa e durante a noite, sendo que atualmente já existem toalhitas formuladas à base de água, que podem ser menos irritantes, sendo que outras são formuladas com agentes hidratantes e apaziguadores para a pele do bebé. Por outro lado, a presença de determinados componentes nestas toalhitas pode ser o suficiente para irritar a pele de alguns bebés, e do ponto de vista económico são uma opção mais cara, e menos amiga do ambiente.
Quanto aos óleos de limpeza, a sua formulação pode ser mais hidratante para a pele do bebé e menos abrasiva, e são geralmente muito bons a retirar matéria orgânica, sem tanta fricção, e não secando a pele. Convém ser criterioso na seleção destes produtos, que devem ser adequados para a pele sensível do bebé. Alguns óleos podem deixar resíduos que tapem os poros e não permitam uma boa respiração da pele, pelo que pode não ser solução para alguns rabinhos mais sensíveis.
Há quem equilibre a balança e opte pela água em casa, e pelas toalhitas no exterior. O certo é que para um rabinho saudável, qualquer opção é uma boa opção, e depende das escolhas da família.
Ponto 5. Devo ou não usar pomada para proteger a pele do bebé das assaduras?
Vamos a distinguir duas situações diferentes – o uso de cremes/pomadas para prevenir as assaduras, e o uso para tratar as assaduras.
Em termos de prevenção, se o bebé tem a pele íntegra e saudável, e sem qualquer sinal de irritação, a aplicação rotineira de pomada a cada troca de fralda não é necessária. Manter a pele limpa e seca, trocando frequentemente de fralda, é geralmente suficiente. Existem, contudo, bebés que têm peles mais sensíveis, ou que mostram desde logo tendência para assaduras ou irritação local, em que a aplicação rotineira de uma camada fina de pomada protetora pode ajudar a criar uma barreira para proteger a pele da humidade típica da zona – e isto é particularmente importante em situações em que se prevê que a fralda possa ficar mais tempo, como é o caso da noite.
A composição da pomada é também importante – produtos com óxido de zinco na sua composição, ou vaselina, são usados pela sua função barreira, para prevenção da assadura.
Um erro comum dos pais com estas pomadas é o uso em quantidade excessiva – quando usamos camadas espessas, pode dificultar a respiração da pele, e obstruir os poros.
Quando a assadura está já instalada, aí o uso de pomadas específicas tem claramente vantagens. Existem várias opções disponíveis no mercado (e novamente, o óxido de zinco, pela sua ação cicatrizante, é muito usado), e nem sempre o que resulta para um bebé resulta para outro. Agora, não posso deixar de referir que não sou defensora de pomadas que fazem associação destes agentes a antifúngicos – existem pomadas de venda livre que têm antifúngico na sua composição, e se as usamos de forma rotineira e indiscriminada para tratar assaduras, arriscamo-nos a comprometer a eficácia do tratamento antifúngico quando dele precisamos, pois os fungos, tal como as bactérias, também ganham resistências. Assim, assaduras que não passem com uma pomada simples, em que possa haver a suspeita de sobreinfeção fúngica, devem ser sempre avaliadas para se fazer o tratamento correto.
Concluindo, a verdade é que a higiene da zona da fralda é fundamental para a saúde e conforto do seu bebé. E eu espero que com estas dicas (e muita, muita prática!), vocês se tornem em verdadeiros especialistas da muda da fralda. E lembrem-se – já o disse acima, mas volto a dizer, o que funciona para o bebé do vizinho, não tem de funcionar para o vosso. Às vezes precisamos de ajustar vários pormenores até chegarmos à combinação que mais beneficia o vosso bebé. A prática faz a perfeição, certo? Boa sorte!!
Comments