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Atrás da cortina...


Hesitei bastante antes de escrever este post. Como quem me conhece sabe, eu prezo muito a minha vida privada, e na medida do possível tento resguardar a minha família, separando a parte profissional da parte pessoal. Ainda ontem, quando assistia a uma formação que estou a fazer, comentava-se que enquanto profissionais na área da saúde, "trazemos os meninos para casa". E eu, enquanto pediatra, já "trouxe muitos meninos para casa". Meninos e famílias em que as coisas correram muito mal (falo claramente de urgências em que tive de lidar com a morte, e de ajudar a família a lidar com isso), ou de meninos em que por alguma razão fico preocupada, e venho para casa a pensar, "fiz tudo o que podia"? " o desfecho teria sido diferente se... se... se...". Muitos "se"... muitos "porquê"... Mas hoje, ao fazer o balanço, trago também o coração cheio por todas aquelas crianças e famílias em que fiz a diferença, de forma positiva. Em que mais do que o agradecimento, vê-se nos olhos dos pais e das crianças a felicidade de receber um bebé recém-nascido em que a nossa intervenção foi determinante para que o bebé sobrevivesse (e às vezes as pessoas nem dão por isso), e tantas outras situações na urgência, e mesmo em consulta, em que conseguimos de certa forma melhorar a qualidade de vida daquelas famílias.

E perguntam vocês, mas a que se deve este "abrir" de coração hoje? Este abrir de coração é para todos os pais cujos filhos estão na minha consulta porque dia após dia confiam na profissional e pessoa que sou. Como alguns saberão, por um ou outro motivo, no final de dezembro do ano passado estive doente, e internada durante uma semana. Uma dura semana, afastada da minha família dado o contexto pandémico, e a lidar eu própria com um diagnóstico de doença. Muitos pais não repararam porque continuei a responder às suas dúvidas (um pouco mais lentamente que o habitual), mas vários fizeram chegar até mim mensagens de apoio, uma vez que as clínicas onde trabalho, ao desmarcar as consultas, passaram a informação de que eu estaria doente, e como tal afastada do ponto de vista profissional. Tive de diminuir a minha atividade (e logo eu, que não consigo estar quieta), e aprender a dosear o meu esforço. Teria sido tudo mais fácil se ficasse logo ali resolvido, e pronto. Mas infelizmente a vida não é assim, há coisas que não se resolvem no imediato independentemente da nossa vontade, pelo que esta semana vou voltar a ser internada, para ser sujeita a um tratamento que espero ser mais definitivo. Desta forma, agradeço a vossa compreensão para uns dias em que infelizmente não posso estar ao vosso lado, e ao lado dos vossos filhos, por motivos de saúde. Agora é a altura de eu estar a lutar pela minha saúde, e da importância que esta tem para a minha família. Assim sendo, irei interromper a partir de quarta-feira dia 10 de março as minhas "dicas da pediatra", e não poderei fazer o habitual "live" que costumo fazer no instagram aos sábados, e que tanto prazer me dá fazer, pois acredito que é uma forma de chegar até todos, e não só até aos "meus meninos e famílias". Espero na semana seguinte voltar a estar com todos, o que será um bom sinal. Mas, tudo a correr bem, terei de numa fase inicial voltar a dosear o meu esforço, e em muitas situações apenas poderei estar convosco através dos canais a distância, nomeadamente através de telemedicina, do facebook, messenger, ou de outro tipo destas plataformas.

Por isso, termino este "atrás da cortina" com um pedido, a todas as famílias às quais já ajudei, de uma ou outra forma. Ajudem-me vocês agora, com a energia positiva e o pensamento de que tudo irá correr bem. Porque eu sei que isso faz toda a diferença.


Da vossa pediatra,

Alexandra Luz

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