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Gripe: o que os pais precisam MESMO de saber


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Atualmente, em Portugal, estamos a assistir a um aumento significativo dos casos de gripe, com impacto claro nas famílias, escolas e serviços de saúde. A circulação de uma nova variante da gripe A tem levantado dúvidas e alguma preocupação, sobretudo quando as crianças surgem com febre alta, grande prostração e dores no corpo intensas.

Este artigo pretende esclarecer, de forma prática e baseada na evidência, o que é a gripe, quais os sintomas mais frequentes nas crianças, como se faz o diagnóstico, como se trata, quais os sinais de alarme e o que podemos fazer para prevenir.


O que é a gripe?


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A gripe é uma doença infeciosa causada pelo vírus Influenza, que circula sobretudo nos meses mais frios.

Os principais tipos responsáveis pelas epidemias sazonais são o Influenza A e o Influenza B.

Uma característica importante deste vírus é a sua capacidade de mudar frequentemente, o que explica:

  • o aparecimento regular de novas variantes

  • a necessidade de atualizar a vacina todos os anos


Gripe ou constipação? Não é a mesma coisa!


Uma dúvida muito frequente em consulta.

📌 A constipação entra devagar. A gripe entra geralmente de rompante.


Constipação

Gripe

Início gradual

Início súbito

Febre ausente ou mais baixa

Febre frequentemente alta e abrupta

Mal-estar ligeiro

Diminuição da atividade marcada

Criança relativamente ativa

Criança caída, sem energia, queixosa

Na gripe, é comum os pais relatarem que a criança estava bem de manhã e, poucas horas depois, está muito pouco ativa, ou muito queixosa.


Sintomas mais frequentes da gripe em crianças


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Os sintomas podem variar com a idade, mas os mais comuns são:

  • 🤒 Febre alta, muitas vezes acima dos 39 °C

  • 😴 Cansaço intenso e diminuição marcada da atividade

  • 🤕 Dor de cabeça

  • 🤧 Tosse seca

  • 😷 Dor de garganta

  • 🤢 Náuseas, vómitos ou dor abdominal, dejeções diarreicas (mais frequentes nas crianças)

Há ainda um grupo de sintomas que merece destaque particular – o das dores musculares, mialgias e miosite.

Um dos aspetos que mais distingue a gripe de outras infeções respiratórias é a intensidade das dores musculares.


Mialgias: porque é que “dói tudo”?

As mialgias são dores musculares generalizadas e são muito frequentes na gripe.

Resultam da resposta inflamatória do organismo ao vírus — o corpo entra em verdadeiro “modo de combate”, libertando substâncias que afetam os músculos.

É comum os pais descreverem: “Queixa-se que lhe dói o corpo todo” ou “Diz que não se consegue mexer.”

Estas dores explicam grande parte da prostração e diminuição da atividade típicas da gripe.


Miosite associada à gripe

Temos assistido também a casos de miosite associada à gripe, sobretudo em crianças em idade pré-escolar e escolar.

A miosite corresponde a uma inflamação dos músculos, mais frequentemente ao nível das pernas, em especial das barrigas das pernas (gémeos).

Pode surgir durante a fase aguda da gripe ou já na fase de recuperação, quando a febre já está a melhorar.

Manifesta-se por dor intensa nas pernas, dificuldade ou recusa em andar ou marcha em bicos dos pés ou queixas ao apoiar os pés no chão.


📌 Apesar de assustar bastante os pais, na maioria dos casos é benigna, transitória e resolve espontaneamente, sem deixar problemas. É aconselhável reforçar a hidratação nestes casos, algo que é igualmente uma recomendação já para a gripe.

👉 Basicamente, é a sensação de como se os músculos tivessem feito uma maratona sem haver nenhum treino antes.


Como se faz o diagnóstico da gripe?


Na maioria das crianças, o diagnóstico é clínico, baseado nos sintomas e no contexto epidemiológico (circulação do vírus na comunidade – casos na família, ou nas creches/escolas).


Testes rápidos de antigénio

Atualmente, existem testes rápidos de antigénio para a gripe, semelhantes aos que ficaram conhecidos durante a pandemia de COVID-19.

Estes testes:

  • podem ser realizados em contexto clínico, onde a criança é observada

  • e, em alguns casos, até em casa pelos próprios pais, adquiridos na farmácia


📌 O principal papel destes testes não é tanto “mudar o tratamento”, mas sim:

  • atribuir uma causa à febre

  • ajudar a tranquilizar os pais

  • reduzir a incerteza sobre o que está a causar os sintomas


Um teste positivo ajuda a perceber: “Estamos perante uma gripe”, e evita muitas vezes exames desnecessários ou preocupações excessivas.


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Exemplo de dois testes diferentes adquiridos em farmácia comunitária, com resultado positivo para Influenza A. Nota – é importante respeitar sempre as instruções específicas para cada tipo de teste.


Um teste negativo não exclui completamente a gripe, sobretudo se os sintomas forem muito sugestivos, mas pode ser útil no raciocínio clínico global.


Como se trata a gripe?


❌ Antibióticos não tratam a gripe

A gripe é causada por um vírus, não por bactérias.

 

✅ O tratamento é essencialmente de suporte:

  • Repouso

  • Hidratação adequada

  • Antipiréticos e analgésicos (paracetamol ou ibuprofeno, quando indicados)

  • Ambiente tranquilo e confortável

  • Limpeza e desobstrução nasal, quando existem sintomas de congestão/rinorreia, ou tosse;

 

📌 O objetivo não é “matar o vírus”, mas ajudar o corpo a recuperar enquanto combate a infeção.

 

Em situações específicas — crianças com fatores de risco ou doença grave, internamentos — o pediatra poderá ponderar antivirais (ex. oseltamivir), mas não são necessários na maioria dos casos.


Quanto tempo dura a gripe?


  • Febre: geralmente 3 a 5 dias, embora em alguns casos vá até aos 7 dias

  • Dores musculares: mais intensas nos primeiros dias

  • Tosse e cansaço: podem persistir 1 a 2 semanas

A recuperação é progressiva, sendo normal haver dias melhores e outros em que a criança se sente mais cansada.


Sinais de alarme 🚨


Procurar observação médica urgente se surgir:

  • Dificuldade respiratória

  • Prostração marcada ou alteração do estado de consciência

  • Recusa persistente de líquidos ou sinais de desidratação

  • Febre que não cede ou reaparece após melhoria

  • Convulsões

  • Dor muscular muito intensa, incapacidade persistente de andar ou urina escura


📌 Mais do que um sintoma isolado, importa avaliar sempre o estado geral da criança.


Como se transmite a gripe?


A transmissão é fácil e rápida por gotículas respiratórias (tosse, espirros, fala) ou mãos e superfícies contaminadas

Uma criança pode contagiar:

  • desde 24 horas antes do início dos sintomas

  • até 5 a 7 dias depois (por vezes mais tempo nos mais pequenos)


Medidas de prevenção: o que realmente protege


💉 Vacinação contra a gripe


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A vacinação é a principal medida de prevenção da gripe em idade pediátrica.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) recomenda a vacinação contra a gripe a todas as crianças entre os 6 meses e os 5 anos de idade, independentemente de terem ou não doenças de base.

A norma emitida pela DGS segue a recomendação já efetuada anteriormente pela Organização Mundial da Saúde, e baseia-se em:

  • maior risco de complicações nesta faixa etária

  • elevada transmissão em creches e jardins de infância

  • impacto significativo da gripe no bem-estar da criança e da família

Mesmo em crianças previamente saudáveis, a gripe pode ser uma doença grave, com necessidade de internamento, e até desfechos menos bons.


Vacina intranasal

A partir dos 2 anos de idade, existe também a opção de vacina intranasal, administrada sob a forma de uma suspensão nasal.

Esta vacina traz como mais-valia o facto de não envolver uma injeção, sendo globalmente bem aceite pelas crianças, e tem eficácia comprovada na prevenção da gripe.

A escolha da vacina deve ser feita em conjunto com o profissional de saúde, de acordo com a idade da criança e as recomendações em vigor para cada época gripal. Poderão ter acesso a mais informações no meu artigo anterior, em https://www.alexandraluzpediatra.com/post/vacinação-contra-a-gripe-em-crianças-o-que-mudou-este-ano.


Mensagem final para os pais


A gripe pode ser uma doença exigente — com febre alta, dores musculares marcadas e grande cansaço — mas na maioria das crianças evolui de forma favorável, com vigilância adequada.

Compreender que não existe um tratamento específico, que o diagnóstico é muitas vezes clínico, e que a maioria dos casos são melhor geridos no ambiente da criança ajuda a

  • reduzir a ansiedade

  • evitar alarmes desnecessários

  • reconhecer atempadamente os verdadeiros sinais de gravidade

E, na dúvida, o melhor aliado dos pais continua a ser o mesmo: o pediatra ou médico de família que acompanha a criança.

 
 
 

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