Gripe: o que os pais precisam MESMO de saber
- Alexandra Luz

- há 2 dias
- 5 min de leitura

Atualmente, em Portugal, estamos a assistir a um aumento significativo dos casos de gripe, com impacto claro nas famílias, escolas e serviços de saúde. A circulação de uma nova variante da gripe A tem levantado dúvidas e alguma preocupação, sobretudo quando as crianças surgem com febre alta, grande prostração e dores no corpo intensas.
Este artigo pretende esclarecer, de forma prática e baseada na evidência, o que é a gripe, quais os sintomas mais frequentes nas crianças, como se faz o diagnóstico, como se trata, quais os sinais de alarme e o que podemos fazer para prevenir.
O que é a gripe?

A gripe é uma doença infeciosa causada pelo vírus Influenza, que circula sobretudo nos meses mais frios.
Os principais tipos responsáveis pelas epidemias sazonais são o Influenza A e o Influenza B.
Uma característica importante deste vírus é a sua capacidade de mudar frequentemente, o que explica:
o aparecimento regular de novas variantes
a necessidade de atualizar a vacina todos os anos
Gripe ou constipação? Não é a mesma coisa!
Uma dúvida muito frequente em consulta.
📌 A constipação entra devagar. A gripe entra geralmente de rompante.
Constipação | Gripe |
Início gradual | Início súbito |
Febre ausente ou mais baixa | Febre frequentemente alta e abrupta |
Mal-estar ligeiro | Diminuição da atividade marcada |
Criança relativamente ativa | Criança caída, sem energia, queixosa |
Na gripe, é comum os pais relatarem que a criança estava bem de manhã e, poucas horas depois, está muito pouco ativa, ou muito queixosa.
Sintomas mais frequentes da gripe em crianças

Os sintomas podem variar com a idade, mas os mais comuns são:
🤒 Febre alta, muitas vezes acima dos 39 °C
😴 Cansaço intenso e diminuição marcada da atividade
🤕 Dor de cabeça
🤧 Tosse seca
😷 Dor de garganta
🤢 Náuseas, vómitos ou dor abdominal, dejeções diarreicas (mais frequentes nas crianças)
Há ainda um grupo de sintomas que merece destaque particular – o das dores musculares, mialgias e miosite.
Um dos aspetos que mais distingue a gripe de outras infeções respiratórias é a intensidade das dores musculares.
Mialgias: porque é que “dói tudo”?
As mialgias são dores musculares generalizadas e são muito frequentes na gripe.
Resultam da resposta inflamatória do organismo ao vírus — o corpo entra em verdadeiro “modo de combate”, libertando substâncias que afetam os músculos.
É comum os pais descreverem: “Queixa-se que lhe dói o corpo todo” ou “Diz que não se consegue mexer.”
Estas dores explicam grande parte da prostração e diminuição da atividade típicas da gripe.
Miosite associada à gripe
Temos assistido também a casos de miosite associada à gripe, sobretudo em crianças em idade pré-escolar e escolar.
A miosite corresponde a uma inflamação dos músculos, mais frequentemente ao nível das pernas, em especial das barrigas das pernas (gémeos).
Pode surgir durante a fase aguda da gripe ou já na fase de recuperação, quando a febre já está a melhorar.
Manifesta-se por dor intensa nas pernas, dificuldade ou recusa em andar ou marcha em bicos dos pés ou queixas ao apoiar os pés no chão.
📌 Apesar de assustar bastante os pais, na maioria dos casos é benigna, transitória e resolve espontaneamente, sem deixar problemas. É aconselhável reforçar a hidratação nestes casos, algo que é igualmente uma recomendação já para a gripe.
👉 Basicamente, é a sensação de como se os músculos tivessem feito uma maratona sem haver nenhum treino antes.
Como se faz o diagnóstico da gripe?
Na maioria das crianças, o diagnóstico é clínico, baseado nos sintomas e no contexto epidemiológico (circulação do vírus na comunidade – casos na família, ou nas creches/escolas).
Testes rápidos de antigénio
Atualmente, existem testes rápidos de antigénio para a gripe, semelhantes aos que ficaram conhecidos durante a pandemia de COVID-19.
Estes testes:
podem ser realizados em contexto clínico, onde a criança é observada
e, em alguns casos, até em casa pelos próprios pais, adquiridos na farmácia
📌 O principal papel destes testes não é tanto “mudar o tratamento”, mas sim:
atribuir uma causa à febre
ajudar a tranquilizar os pais
reduzir a incerteza sobre o que está a causar os sintomas
Um teste positivo ajuda a perceber: “Estamos perante uma gripe”, e evita muitas vezes exames desnecessários ou preocupações excessivas.

Exemplo de dois testes diferentes adquiridos em farmácia comunitária, com resultado positivo para Influenza A. Nota – é importante respeitar sempre as instruções específicas para cada tipo de teste.
Um teste negativo não exclui completamente a gripe, sobretudo se os sintomas forem muito sugestivos, mas pode ser útil no raciocínio clínico global.
Como se trata a gripe?
❌ Antibióticos não tratam a gripe
A gripe é causada por um vírus, não por bactérias.
✅ O tratamento é essencialmente de suporte:
Repouso
Hidratação adequada
Antipiréticos e analgésicos (paracetamol ou ibuprofeno, quando indicados)
Ambiente tranquilo e confortável
Limpeza e desobstrução nasal, quando existem sintomas de congestão/rinorreia, ou tosse;
📌 O objetivo não é “matar o vírus”, mas ajudar o corpo a recuperar enquanto combate a infeção.
Em situações específicas — crianças com fatores de risco ou doença grave, internamentos — o pediatra poderá ponderar antivirais (ex. oseltamivir), mas não são necessários na maioria dos casos.
Quanto tempo dura a gripe?
Febre: geralmente 3 a 5 dias, embora em alguns casos vá até aos 7 dias
Dores musculares: mais intensas nos primeiros dias
Tosse e cansaço: podem persistir 1 a 2 semanas
A recuperação é progressiva, sendo normal haver dias melhores e outros em que a criança se sente mais cansada.
Sinais de alarme 🚨
Procurar observação médica urgente se surgir:
Dificuldade respiratória
Prostração marcada ou alteração do estado de consciência
Recusa persistente de líquidos ou sinais de desidratação
Febre que não cede ou reaparece após melhoria
Convulsões
Dor muscular muito intensa, incapacidade persistente de andar ou urina escura
📌 Mais do que um sintoma isolado, importa avaliar sempre o estado geral da criança.
Como se transmite a gripe?
A transmissão é fácil e rápida por gotículas respiratórias (tosse, espirros, fala) ou mãos e superfícies contaminadas
Uma criança pode contagiar:
desde 24 horas antes do início dos sintomas
até 5 a 7 dias depois (por vezes mais tempo nos mais pequenos)
Medidas de prevenção: o que realmente protege
💉 Vacinação contra a gripe

A vacinação é a principal medida de prevenção da gripe em idade pediátrica.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) recomenda a vacinação contra a gripe a todas as crianças entre os 6 meses e os 5 anos de idade, independentemente de terem ou não doenças de base.
A norma emitida pela DGS segue a recomendação já efetuada anteriormente pela Organização Mundial da Saúde, e baseia-se em:
maior risco de complicações nesta faixa etária
elevada transmissão em creches e jardins de infância
impacto significativo da gripe no bem-estar da criança e da família
Mesmo em crianças previamente saudáveis, a gripe pode ser uma doença grave, com necessidade de internamento, e até desfechos menos bons.
Vacina intranasal
A partir dos 2 anos de idade, existe também a opção de vacina intranasal, administrada sob a forma de uma suspensão nasal.
Esta vacina traz como mais-valia o facto de não envolver uma injeção, sendo globalmente bem aceite pelas crianças, e tem eficácia comprovada na prevenção da gripe.
A escolha da vacina deve ser feita em conjunto com o profissional de saúde, de acordo com a idade da criança e as recomendações em vigor para cada época gripal. Poderão ter acesso a mais informações no meu artigo anterior, em https://www.alexandraluzpediatra.com/post/vacinação-contra-a-gripe-em-crianças-o-que-mudou-este-ano.
Mensagem final para os pais
A gripe pode ser uma doença exigente — com febre alta, dores musculares marcadas e grande cansaço — mas na maioria das crianças evolui de forma favorável, com vigilância adequada.
Compreender que não existe um tratamento específico, que o diagnóstico é muitas vezes clínico, e que a maioria dos casos são melhor geridos no ambiente da criança ajuda a
reduzir a ansiedade
evitar alarmes desnecessários
reconhecer atempadamente os verdadeiros sinais de gravidade
E, na dúvida, o melhor aliado dos pais continua a ser o mesmo: o pediatra ou médico de família que acompanha a criança.









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