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Exploração dos genitais em idade pré-escolar: o que os pais querem saber (sem perguntar)


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É um daqueles temas que faz muitos pais engolirem em seco. O bebé cresce, entra na idade pré-escolar… e, de repente, descobre que tem genitais. E, ainda mais surpreendente para os adultos, descobre que mexer nos genitais é… interessante.

Antes que o alarme toque, respiremos fundo: isto é uma parte normal do desenvolvimento infantil.

A cena é familiar para muitos pais: uma tarde tranquila, um miúdo de 3 ou 4 anos no sofá… e lá está ele, a explorar os genitais como quem encontrou um brinquedo novo. Para os adultos, pode ser desconfortável. Para a criança, é apenas mais um momento do seu grande projeto de investigação: descobrir o próprio corpo.

 

Antes de assumirmos significados escondidos, vale a pena perceber o que isto representa — e como orientar de forma tranquila, segura e saudável.

 

Quando é que a exploração genital costuma acontecer?

 

Este comportamento é habitual:

  • Entre os 2 e os 5 anos, numa fase de intensa curiosidade corporal.

  • Quando a criança descobre diferenças anatómicas entre rapazes e raparigas.

  • Em momentos de tédio, sonolência, desconforto, ou simplesmente relaxamento.

 

É desenvolvimento normal, não é sexualidade adulta.

 

Porque é que isto acontece?

 

Nesta idade, as crianças são pequenos “cientistas sensoriais”: tocam, apertam, cheiram, investigam tudo.

Os genitais:

  •    têm sensações diferentes das restantes zonas,

  •    dão uma sensação física agradável,

  •    levantam perguntas internas (“para que serve?”, “por que é diferente?”).

 

Importante: não representa intenção sexual. Na realidade, mexer nos genitais é tão sexual para a criança como baloiçar o corpo ou mexer no seu umbigo.

 

Como devem os pais lidar com a situação? — Guia completo e prático

 

Aqui está a parte que tantos pais procuram: o que fazer, quando fazer e como fazer.

Sem dramas, sem tabus e sem transformar a situação num filme policial.

 

1. Reagir com naturalidade: “Vejo-te, está tudo bem, mas…”


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A nossa primeira reação é o “barómetro emocional” da criança.

Devemos evitar gritos, frases que transmitam vergonha (“isso é feio!”, “não mexas aí!”), silêncios tensos ou caras de choque.

O ideal é optar por algo neutro e orientador:

“Percebo que estejas a explorar o teu corpo. O pénis/a vulva são partes íntimas. Isto fazemos no quarto ou na casa de banho.”


⭐ 2. Ensinar privacidade: “Partes íntimas → lugares íntimos”

 

As crianças compreendem regras simples e concretas:

                  •               O quê? “Estas partes são íntimas.”

                  •               Onde? “Exploramos no quarto ou na casa de banho.”

                  •               Quando? “Quando estamos sozinhos, num momento calmo.”

 

Não se trata de proibir — trata-se de contextualizar.

A criança não tem maturidade para saber o que é socialmente aceitável. Ajudá-la a perceber “onde é apropriado” é educação, não censura.

 

3. Nomear corretamente as partes do corpo

 

Usar nomes verdadeiros não “sexualiza” nada — normaliza. O pénis, a vulva, os testículos, a vagina...

Quanto mais correta for a linguagem:

                  •               mais fácil prevenir mal-entendidos,

                  •               mais seguro para detetar e relatar possíveis abusos,

                  •               mais saudável a relação da criança com o próprio corpo.

 

4. Se acontece em público ou na escola: o que fazer?


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Situação: Está a mexer nos genitais no parque, supermercado ou restaurante

Não dramatizar e não humilhar.

A melhor abordagem é discreta, firme e gentil:

“Querido(a), isso é uma parte íntima. Vamos guardar as mãos fora das cuecas enquanto estamos aqui. Se quiseres explorar, fazemos isso em casa, no teu espaço.”

 

                  •               Sem ralhar alto (criança envergonhada não aprende — só esconde).

                  •               Sem arrancar a mão bruscamente (pode associar o gesto a perigo ou culpa).

                  •               Sem transformar num “espetáculo”.

 

A regra de ouro: correção imediata, curta e no momento.


5. Devo fingir que não vejo?

 

Depende do momento.

Quando é útil ignorar?

•  Se é ocasional, breve e não parece compulsivo.

•  Se interromper parece reforçar o comportamento (“atenção especial → repetir”).

Neste caso:

•  Desviar discretamente a atenção (“vamos brincar com isto?”, “vem cá ver uma coisa!”).

 

Quando NÃO devemos ignorar?

                  •               Se é em público.

                  •               Se a criança está a aprender limites.

                  •               Se está a acontecer repetidamente.

 

A regra é:

➡ ignorar só funciona quando o comportamento não precisa de ser corrigido naquele contexto.

 

6. Oferecer alternativas quando é autorregulação

 

Algumas crianças mexem nos genitais para adormecer, acalmar-se ou lidar com ansiedade ou tédio.

Nestes casos:

                  •  incluir rituais calmantes,

                  •  usar peluches,

                  •  criar rotinas previsíveis,

                  •  ensinar outras formas de relaxar (abraços, respiração “cheira a flor / apaga a vela”).

 

Não se consegue “proibir” a autorregulação — ensinam-se alternativas.

 

7. Evitar reforço involuntário

 

Se cada vez que faz isto recebe caras de choque, risos ou atenção extra…

…então o comportamento ganha um valor que não tinha.

 

A estratégia ideal combina orientação, naturalidade, limites simples e consistência.

                 

8. Reforçar mensagens de segurança corporal


Ensinar desde cedo:

                  •               “O teu corpo é teu.”

                  •               “Ninguém toca nas tuas partes íntimas sem uma razão de saúde.”

                  •               “Se algo te deixar desconfortável, conta-me sempre.”

 

Estas mensagens salvam vidas — e não assustam as crianças.


Quando é que há sinais de alarme?

 

Embora na grande maioria dos casos este seja um comportamento totalmente normal, devemos procurar ajuda se houver:

 

🔔 Comportamentos sexualizados improváveis para a idade

                  •  simulação de atos sexuais,

                  •  conhecimento sexual avançado,

                  •  linguagem sexual explícita.

 

🔔 Comportamento compulsivo

                  •  não consegue parar,

                  •  interfere com brincadeira e rotina,

                  •  fica irritada se interrompida.

 

🔔 Sintomas físicos

                  •  comichão intensa,

                  •  dor,

                  •  corrimento,

             •  irritação persistente (podem ser dermatites, infeções, parasitas, alergias).

 

🔔 Mudança de comportamento

                  •  medo de certas pessoas,

                  •  regressão súbita,

                  •  isolamento.

 

🔔 Suspeita de abuso

 

Qualquer suspeita deve ser avaliada imediatamente por profissionais de saúde e proteção infantil.

 

 

Mensagem final aos pais

 

Explorar os genitais em idade pré-escolar é desenvolvimento normal — faz parte do processo de descobrir o próprio corpo, assim como aprender a soprar uma vela ou perceber para que servem as orelhas.

 

O papel dos pais é:

                  •               orientar,

                  •               estabelecer limites,

                  •               educar sem envergonhar,

                  •               garantir segurança,

                  •               criar espaço para perguntas.

 

Como tantas fases da infância, esta passa — mas passa com muito mais serenidade quando os adultos também respiram fundo e confiam no processo.

 
 
 

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