Vírus Sincicial Respiratório: a “praga” para os bebés e o escudo protetor para 2025-2026
- Alexandra Luz
- 24 de ago.
- 5 min de leitura
Atualizado: 25 de ago.

O outono e o inverno são aquela época do ano em que o frio “abre a porta” aos vírus respiratórios para entrarem em nossas casas. Entre eles, o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) é um visitante indesejado que, para os adultos, pode ser apenas um incómodo, mas para os bebés — especialmente os mais pequeninos — pode tornar-se um convidado perigoso, capaz de provocar infeções graves como bronquiolite ou pneumonia.
Se pensarmos no sistema imunitário dos bebés como um “castelo” ainda em construção, o VSR é um invasor que é perito em atalhos para passar pelas muralhas. A boa notícia? Hoje já temos alguns escudos protetores, e um deles pode ser dado logo nos primeiros dias de vida: o nirsevimab, um anticorpo que funciona como um “guarda de segurança” de longa duração.
Já no ano passado escrevi dois artigos sobre o nirsevimab, e a estratégia de proteção na altura programada pela DGS, e convido-vos a recordar os mesmos, uma vez que explicam detalhadamente o que é o VSR, como funciona o nirsevimab, e ainda falam sobre a vacina do VSR na grávida, permitindo responder a algumas dúvidas que possam ter nesse sentido.
1. Como vai funcionar a proteção neste próximo ano (2025-2026)
Segundo a nova norma da Direção-Geral da Saúde, o nirsevimab será disponibilizado gratuitamente entre 16 de setembro de 2025 e 31 de março de 2026.
Quem vai ter direito a receber:
Todos os bebés nascidos entre 16 de setembro de 2025 e 31 de março de 2026 (ainda na maternidade, se possível).
Bebés nascidos entre 1 de junho e 15 de setembro de 2025, que serão chamados ao centro de saúde assim que possível.
Crianças até aos 24 meses com condições que as tornem mais vulneráveis: prematuridade, doenças cardíacas ou pulmonares, imunodeficiências, entre outras.
💡 Na prática: é como se, antes do inverno, preparássemos um casaco à prova de frio para os bebés, mas em vez de lã, o que os aquece por dentro é um anticorpo capaz de neutralizar o vírus durante 5 a 6 meses — justamente a época em que se prevê haver maior circulação do VSR.
Tal como já sucedia no ano anterior, no caso das grávidas que tiverem optado pela imunização durante a gravidez com a vacina contra o VSR, caso esta tenha sido feita no timing adequado (até 14 dias antes do nascimento do bebé), não é necessário fazer o nirsevimab.
Volto a reforçar que, da mesma forma como já aconteceu no ano passado, não está previsto que o nirsevimab esteja disponível para compra em farmácia comunitária, ou seja, a única forma de o bebé ser imunizado com este anticorpo é pertencer a um dos grupos incluídos na recomendação da DGS.
2. O que aprendemos no ano passado (2024-2025)
Foi o primeiro ano desta proteção em Portugal continental e os resultados foram claros:
Cobertura de 86 % em todo o país.
Menos 85 % de internamentos em bebés até aos 3 meses.
Menos 40 % de internamentos em bebés dos 3 aos 6 meses.
💬 Exemplo real: na Unidade Local de Saúde de Matosinhos, todas as 774 crianças elegíveis receberam a dose. Resultado? Menos bebés internados, menos noites sem dormir para os pais e mais camas livres para outros cuidados urgentes.

Infelizmente, o Serviço Nacional de Saúde português, e com ele todas as estruturas que oferecem cuidados à população, já têm dificuldade em gerir os seus recursos no caso de pico de infeções respiratórias que se verifica tradicionalmente no outono/inverno. Não esqueçam que para além do VSR, coincide nesta altura também o pico de infeção pela gripe, e vários outros vírus respiratórios e bactérias, pelo que para além de reduzirmos a doença e os seus riscos nos bebés que beneficiam desta imunização, protegemos indiretamente as suas famílias, e libertamos os serviços de atendimento para outras situações igualmente necessárias.
3. Porque é que esta proteção faz sentido
O nirsevimab, ao contrário do que algumas pessoas pensam, não é uma vacina clássica — é como entregar ao bebé um “soldado pronto a lutar” no momento em que o vírus tenta entrar.
Atua praticamente de imediato, sem precisar que o corpo aprenda a lutar primeiro.
Protege durante toda a época crítica.
É seguro e pode ser administrado ao mesmo tempo que qualquer vacina do Programa Nacional de Vacinação português.
Além disso, menos internamentos significam menos separações dolorosas entre pais e filhos, menos tratamentos invasivos e menos medo.
4. O que os pais precisam de saber e fazer
Perguntar no médico assistente, pediatra, hospital ou centro de saúde se o bebé é elegível.
Guardar no Boletim Individual de Saúde o registo da administração.
Seguir as orientações da equipa de enfermagem que administra em relação à monitorização e vigilância após a administração.
Continuar com as medidas básicas: lavar as mãos, evitar contacto com pessoas doentes, manter ambientes ventilados (sim, o VSR é apenas um dos vírus respiratórios da época fria, embora seja o mais importante).
📌 Mensagem-chave: O nirsevimab não substitui o cuidado diário, mas é um reforço fundamental. Pense nele como um “alarme anti-invasores” que funciona mesmo quando não estamos a olhar.

5. E para bebés que nasçam após 31 de março de 2026?
Os bebés que nasçam a partir do dia 31 de março de 2026 não estão abrangidos pela presente norma, portanto até prova em contrário (ou alguma alteração da estratégia presente) não vão ser imunizados. Neste ano de 2025, os bebés nascidos entre 1 de abril e 31 de maio ficaram de fora dos grupos abrangidos quer pela norma de 2024-2025, quer pela norma de 2025-2026. Para estes bebés, a única hipótese de ficarem protegidos teria sido as mães terem feito a vacina contra o VSR durante a gravidez.
E numa nota pessoal, agora, para proteção individual (que pode ser diferente da estratégia de proteção comunitária global, determinada por vários fatores) o risco de infeção existe mesmo fora do período epidemiológico, e se bem que o risco de complicações mais graves é no caso de bebés pequenos, também os bebés entre os 6 e os 12 meses (e às vezes um pouco mais) têm algum risco. Eu própria estive internada com o meu filho mais novo, tinha ele 9 meses, com uma pneumonia a VSR, a precisar de oxigénio, e sem muito mais a oferecer. Estivemos lá cinco dias. Se em alguma altura me tivessem dito que havia uma vacina que pudesse prevenir aquela situação (na altura não havia...), garanto-vos que a faria. E quase todas, se não todas as mães da minha consulta, que passaram por episódios semelhantes me reforçam isto – “se eu soubesse...”; “se me tivessem dito”. É um facto que a vacina na grávida tem de ser suportada pela própria (e o preço de mercado ronda os 200 euros), e o anticorpo (em bebés incluídos na norma) é gratuito. Mas há escolhas que podemos fazer. E proteger os nossos filhos, para mim é sempre uma delas.
Conclusão
O inverno pode ser rigoroso, mas não precisa ser assustador. Com esta proteção, os pais podem sentir-se mais seguros e os seus bebés mais fortes, para enfrentar a estação. A época 2024-2025 mostrou que o anticorpo funciona: menos internamentos, menos ansiedade e mais saúde.
Agora, em 2025-2026, é hora de manter as muralhas erguidas e o “guarda de segurança” alerta, para que o VSR seja apenas um nome difícil de pronunciar — e não uma preocupação real na vida das famílias.
Fontes:
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