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Vacinação Contra a Gripe em Crianças: O Que Mudou Este Ano?


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A vacinação contra a gripe continua a ser uma das ferramentas mais eficazes para proteger as crianças das complicações graves da infeção pelo vírus influenza. Este ano, há novidades importantes que os pais e os profissionais de saúde devem conhecer. As novas normas da Direção-Geral da Saúde (DGS), as recomendações da Sociedade de Infeciologia Pediátrica (SIP) e da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), e a introdução da vacina intranasal em Portugal trazem mudanças significativas na abordagem à vacinação pediátrica.


1. O que mudou na norma da DGS de 2025 em relação a 2024?

A principal novidade da Norma n.º 009/2025 é o alargamento da recomendação da vacinação para todas as crianças entre os 6 meses e os 5 anos de idade, com particular destaque para os primeiros dois anos de vida. Este grupo passa agora a integrar os grupos-alvo oficiais da campanha sazonal de vacinação — algo que até 2024 estava limitado às crianças com patologias de risco.

Outra novidade importante é a gratuitidade da vacina injetável no grupo de crianças entre os 6 e os 24 meses. Isto significa que os pais com crianças desta faixa etária podem dirigir-se aos seus Centros de Saúde para fazer esta vacinação.

E não terminamos por aqui, existe ainda mais uma diferença importante: a vacina intranasal viva atenuada (Fluenz®)foi oficialmente incluída como opção recomendada fora do contingente gratuito, dirigida a crianças imunocompetentes com 2 ou mais anos.

 

2. Vacina intranasal: o que é, e quando é indicada?

A vacina Fluenz® é administrada por via nasal e é uma vacina viva, atenuada. A sua administração é simples — uma pequena pulverização em cada narina — o que pode ser uma mais-valia para crianças e adolescentes.

Uma vacina viva atenuada contém vírus ativos, mas enfraquecidos, que foram modificados para não causarem a doença em pessoas saudáveis, mas ainda assim estimularem o sistema imunitário a produzir uma defesa contra o vírus real.

No caso da vacina da gripe intranasal (como a Fluenz®), o vírus foi atenuado de forma a replicar-se apenas nas vias respiratórias superiores, sem invadir os pulmões, provocando uma resposta imunitária eficaz sem causar gripe (esta costuma ser uma dúvida frequente que os pais têm).

 

Considerações principais:

  • Crianças dos 2 aos 18 anos, imunocompetentes;

  • Uma ou duas doses, consoante a indicação ou aconselhamento;

  • Não indicada em crianças com menos de 2 anos devido ao risco acrescido de sibilância e hospitalização;

  • Contraindicada em crianças com asma grave, imunodeficiência ou sob tratamento com salicilatos.

 

3. O que dizem os especialistas da Sociedade Portuguesa de Pediatria?

A Sociedade de Infeciologia Pediátrica (SIP) e a SPP recomendam claramente a vacinação de:

  • Todas as crianças dos 6 aos 59 meses de idade;

  • Crianças com doenças crónicas;

  • Crianças que convivem com pessoas de alto risco (ex: avós, bebés pequenos);

  • Preferencialmente com vacina intranasal para crianças ≥24 meses sem contraindicações, com o objetivo de reservar vacinas inativadas para os grupos prioritários .

A introdução da vacina intranasal é vista como uma estratégia prática, eficaz e menos invasiva — facilitando a aceitação por parte das crianças e famílias.


4. Afinal, porque é tão importante vacinar as crianças contra a gripe?


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A Organização Mundial de Saúde (OMS) identifica as crianças com menos de 5 anos — especialmente as menores de 2 anos — como um dos principais grupos vulneráveis a complicações graves da gripe. Isto deve-se a vários fatores:

  • Imaturidade do sistema imunitário, que aumenta a gravidade da infeção;

  • Elevada taxa de transmissão: as crianças são frequentemente os “grandes transmissores” do vírus na comunidade, por libertarem o vírus em maior quantidade e durante mais tempo do que os adultos;

  • Elevado recurso aos serviços de saúde, com impacto significativo em urgências, hospitalizações e uso de antibióticos;

  • Efeitos indiretos, como o absentismo escolar e laboral nos pais, e o risco para conviventes frágeis, como bebés pequenos, avós ou familiares imunossuprimidos

Vacinar as crianças é, portanto, uma medida de saúde pública com efeitos benéficos diretos e indiretos — tanto para as famílias como para a comunidade.

 

5. Afinal, 1 ou 2 doses?

Durante anos, a recomendação geral foi clara: todas as crianças com menos de 8 anos que nunca tivessem sido vacinadas contra a gripe deveriam receber duas doses, com um intervalo de pelo menos 4 semanas entre elas.

Contudo, a Norma da DGS de 2025 introduz uma alteração significativa: as crianças saudáveis, mesmo sem historial vacinal prévio, passam a necessitar apenas de uma dose anual.

Esta nova orientação visa simplificar o processo vacinal, e provavelmente conta com algum efeito de proteção da comunidade conferido pelo alargamento das recomendações de vacinação, mas entra em aparente contradição com o Resumo das Características do Medicamento (RCM) da vacina Fluenz®, que continua a recomendar duas doses para crianças entre os 2 e os 8 anos que nunca tenham sido vacinadas previamente.



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O que fazer na prática?

  • Se a criança tiver doenças de risco ou for imunocomprometida, a decisão deve ser individualizada.

  • Se for saudável, pode ser vacinada com uma única dose conforme a norma nacional. No entanto, se for usada a vacina Fluenz®, é importante discutir com o médico se uma segunda dose será necessária.


6. E agora, o que significa tudo isto para os pais?

Imagine o seguinte: a sua filha de 3 anos, saudável, frequenta a creche e tem um irmão bebé com 4 meses. Segundo as novas recomendações, ela deveria ser vacinada — não apenas para se proteger, mas também para proteger o irmão, que ainda não pode ser vacinado. Além disso, se a sua filha for saudável, pode ser vacinada sem passar por uma injeção,com uma simples aplicação nasal. Esta vacina pode ser obtida por prescrição médica, comprando depois nas farmácias comunitárias.

Imagine agora que tem um bebé com 9 meses de idade. A vacinação da gripe não só está recomendada, como é administrada gratuitamente no seu Centro de Saúde.

Nota importante independentemente da via de administração da vacina (injectável ou intranasal) todas as crianças devem ser vacinadas no Centro de Saúde.

 

7. Resumo das principais diferenças entre 2024 e 2025


Item

Norma 2024

Norma 2025

Idade incluída na recomendação geral

≥6 meses com patologia de risco.

≥6 meses, incluindo todas as crianças até 5 anos.

Vacinação gratuita pediátrica

Apenas crianças com patologia de risco ou institucionalizadas.

Todas as crianças entre 6 e 24 meses; Crianças com patologia de risco ou institucionalizadas.

Vacina intranasal

Disponível fora do SNS, sem recomendação formal.

Recomendada para crianças ≥2 anos imunocompetentes.

Posologia

2 doses se nunca vacinadas, até aos 8 anos.

1 dose em crianças saudáveis, 2 em caso de risco.

 

Conclusão

O ano de 2025 traz uma abordagem bem mais abrangente e preventiva à vacinação contra a gripe em crianças. A inclusão explícita de crianças saudáveis até aos 5 anos, aliada à introdução da vacina intranasal, representa um avanço significativo na proteção da saúde pediátrica, comodidade de administração, e reconhecimento da importância da gripe como doença evitável pela vacinação.

Recordemos ainda que vacinar é um ato de cuidado, não só individual, mas também comunitário. Quanto mais crianças vacinadas, menor a circulação do vírus, menor a pressão sobre os serviços de saúde e maior a proteção dos mais frágeis entre nós.

Para uma análise mais aprofundada sobre o tema, pode consultar o artigo publicado no ano anterior neste mesmo blog: Vacinação contra a gripe em crianças – Tudo o que tem de saber,

 

Referências:

 

 

 

 

 

 
 
 

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