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Vacinas da Hepatite A e Varicela: porque não estão no Programa Nacional de Vacinação?


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Nos últimos meses, têm-se levantado questões em relação à vacinação das crianças contra a hepatite A, e contra a varicela. No caso da hepatite A, as notícias recentes sobre surtos deixam os pais preocupados, e por vezes sem saber onde procurar informação fidedigna.

Para muitos a pergunta é - mas afinal, se são doenças evitáveis por vacina, por que motivo estas vacinas não estão incluídas para todas as crianças no Programa Nacional de Vacinação (PNV)? Este artigo pretende esclarecer os pais sobre o estado atual das recomendações portuguesas de vacinação contra estas duas doenças, de forma acessível, clara e cientificamente correta.



🏥 Hepatite A: uma infeção que voltou a dar nas vistas


A hepatite A é uma infeção vírica (causada pelo vírus da hepatite A) que afeta o fígado e se transmite, principalmente, por ingestão de água ou alimentos contaminados, ou por contacto próximo com uma pessoa infetada. É muitas vezes benigna na infância, mas pode ainda assim ter consequências graves, e particularmente em adultos.

Em 2025, Portugal registou mais de 500 casos (1), com dois surtos distintos: um associado

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a transmissão sexual entre adultos jovens, e outro que afetou sobretudo crianças em regiões com condições sanitárias mais precárias.

Apesar de existirem vacinas seguras e eficazes contra a hepatite A, esta não faz parte (na generalidade) do PNV. No entanto, a Direção-Geral da Saúde (DGS) recomenda a vacinação em situações de risco ou exposição, como contacto com um caso confirmado, viagens para zonas de endemicidade, ou surtos localizados. A vacina pode ser administrada a partir dos 12 meses de idade, é uma vacina inativada, e o esquema completo inclui duas doses, com intervalo de 6 a 12 meses entre elas. Em situação de surto, pode ser utilizada como medida de proteção rápida (chama-se a isto profilaxia pós exposição).


A Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) recomenda a vacinação contra a hepatite A, tal como apontado pela DGS, em crianças e adolescentes com fatores de risco específicos, como:


Crianças com doença hepática crónica;

Crianças candidatas a transplante hepático;

Crianças sob terapêutica com fatores de coagulação derivados do plasma;

Crianças com contacto próximo com doente com hepatite A (profilaxia pós-exposição);

Viajantes para áreas de risco (países com endemicidade intermédia ou alta);

Crianças com infeção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH);

Adolescentes com comportamentos sexuais de risco para transmissão do vírus da hepatite A, em particular no contexto de surtos.

 

 

🎒 Varicela: uma doença comum que pode ser evitada


A varicela é muitas vezes vista como uma "doença da infância" quase inevitável. Na maioria dos casos, é ligeira, mas pode causar complicações como infeções da pele, pneumonia ou encefalite. Tem tendência para ser mais grave em adolescentes e adultos, bem como em grávidas, recém-nascidos e pessoas com problemas de imunidade.

A vacina contra a varicela está aprovada em Portugal, é uma vacina viva atenuada, e é recomendada pela SPP em crianças de risco e adolescentes suscetíveis (que nunca tiveram a doença nem foram vacinados), sobretudo se contactam com populações vulneráveis. Também é igualmente recomendada a crianças e adolescentes que contactem habitualmente com doentes imunodeprimidos.


Contudo, a SPP não recomenda atualmente a vacinação individual das crianças saudáveis sem fatores de risco. Isto porque, fora de um programa universal com cobertura superior a 85-90%, a vacinação isolada pode provocar uma mudança no padrão epidemiológico da doença, fazendo com que a varicela deixe de ocorrer na infância (quando é mais leve) e passe a surgir mais frequentemente na adolescência ou idade adulta, onde tem maior probabilidade de ser mais grave. Este fenómeno pode, paradoxalmente, aumentar a carga da doença se a vacinação for feita em pequena escala. Quando recomendado, o esquema preconizado pela SPP inclui duas doses da vacina, geralmente administradas:

Primeira dose: a partir dos 12 meses de idade;

Segunda dose: pelo menos 4 semanas depois, sendo ideal administrar até aos 6 anos.


Nos países onde a vacinação é universal (como os EUA), houve uma redução significativa da incidência, hospitalizações e mortalidade associada à varicela. Em Portugal, a ausência de um programa universal faz com que a decisão de vacinar dependa de avaliação individualizada do risco de cada criança e adolescente, em conjunto com o seu médico de família ou pediatra.

 


🔎 O que significa isto para os pais?


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Apesar de não estarem incluídas no PNV, tanto a vacina contra a hepatite A como contra a varicela estão disponíveis em Portugal no mercado, e podem ser administradas com prescrição médica. Cabe aos pais, em conjunto com o médico de família ou pediatra, avaliar a pertinência da vacinação no contexto específico da sua criança e adolescente.

A existência de surtos recentes, os riscos de complicações e o impacto comunitário justificam uma reflexão cuidada sobre a proteção que estas vacinas podem oferecer. A decisão de vacinar não deve ser apenas uma escolha individual, mas também informada pelos efeitos na saúde pública.

 

 

Fontes:

 

 

-  Recomendações sobre vacinas extra-programa nacional de vacinação, Comissão de Vacinas da SIP-SPP, acessível em

 

-  Norma DGS nº 019/2018, de 12/12/2018, Vacinação contra a hepatite A, acessível em https://www.sip-spp.pt/media/grll5muk/hepatite-a-vacinac-a-o-2018-dgs.pdf

 

- Recomendações sobre vacinação contra o vírus da hepatite A, Comissão de Vacinas da SIP-SPP, acessível em https://ojs.pjp.spp.pt/article/view/14715/11070

 

 

 
 
 

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