A mudança de estação traz-nos o colorido diferente do outono, o ar arrefece e a chuva espreita lá fora, e preparamo-nos para a chegada de mais um inverno. E esta transição outono-inverno presenteia-nos também com os temidos vírus respiratórios, podendo dizer-se que fica aberta a época das constipações, bronquiolites, otites e afins.
E é exatamente sobre a bronquiolite que eu vos vou falar hoje, porque é uma situação extremamente frequente nos nossos bebés, e em que como pediatra vou tentar ajudar-vos a perceber o que é esta doença, e como podemos distingui-la de uma simples constipação.
O que é uma bronquiolite?
Chamamos bronquiolite a uma infeção das vias respiratórias mais pequenas, que se chamam bronquíolos. Esta infeção causa inflamação e aumento da produção de muco nestas vias, o que as torna ainda mais pequenas, e pode dificultar a passagem do ar para os pulmões. Geralmente ocorre em crianças abaixo dos dois anos, e o vírus mais frequentemente implicado chama-se vírus sincicial respiratório (VSR). Embora tudo isto possa parecer muito assustador, conhecer a doença e a sua evolução pode ajudá-lo a reconhecer e gerir a situação com mais facilidade.
Bronquiolite e constipação – Quais as diferenças?
Bom, embora ambas estas situações sejam causadas por vírus respiratórios, e numa fase inicial possam partilhar os mesmos sintomas (obstrução nasal, secreções nasais, tosse, febre...), existem diferenças-chave. Logo à partida, a constipação afeta as vias respiratórias superiores, e a bronquiolite atinge as vias inferiores – os bronquíolos. E esta diferença leva a que, enquanto numa constipação após este período inicial de sintomas, a situação se resolva sem grandes problemas, no caso da bronquiolite, após 3-4 dias destes sintomas iniciais pode ocorrer um agravamento com dificuldade respiratória e/ou alimentar e pieira.
Podemos “tratar” uma bronquiolite em casa?
Numa maioria dos casos, sim. Em situações ligeiras, as bronquiolites requerem apenas medidas de suporte e conforto para a criança, uma vez que não há tratamento específico para o vírus que as causa. E este tratamento de suporte é idêntico ao que fazemos nas constipações, ou seja:
- Manter a criança hidratada: vá oferecendo líquidos, e lembre-se que bebés em aleitamento exclusivo podem precisar de refeições mais curtas, e mais frequentes.
- Ajude a criança a manter o nariz desobstruído: opte pelas lavagens nasais, usando dispositivos adequados e com que se sinta confortável a utilizar. Deve fazê-las quando note que a criança precise delas, nomeadamente antes das refeições ou antes dos períodos de sono, de forma a poder comer e descansar melhor.
- Pode tentar o ar humidificado: brincar com a criança no chão da casa de banho, humidificado com o vapor da água quente pode ajudar alguns bebés a respirar melhor. Atenção que não estão recomendados vapores com nenhuma substância, nomeadamente com eucalipto, pela possibilidade de desencadear reações alérgicas graves.
- Mantenha a criança confortável: use antipiréticos para controlar a febre quando esta causa desconforto à criança, e respeite uma natural diminuição do apetite que frequentemente acompanha estas situações.
Permaneça atento à presença de sinais de alarme!
Apesar de a podermos lidar com a maioria das bronquiolites em casa, a verdade é que nalgumas situações isso não é possível, e temos de saber quando procurar ajuda médica. Aqui ficam alguns sinais que devem chamar a atenção para a necessidade de avaliação da criança:
- Febre persistente: quando a temperatura não desce com o uso do antipirético, ou os intervalos sem febre são demasiado curtos, a criança deve ser vista. Atenção que muitos pais confundem “temperatura que não desce” com temperatura que desce, mas volta a subir passado algumas horas – isso é habitual em situações de doença, enquanto o vírus ainda se encontra a causar sintomas. É diferente de não conseguirmos de maneira nenhuma baixar um pico de febre.
- Dificuldade respiratória: é muito diferente da respiração ruidosa da obstrução nasal. Sinais de dificuldade respiratória são o aumento da frequência respiratória (a criança respirar muito rápido), as narinas dilatarem com cada respiração ou aquilo que chamamos tiragem. A tiragem é o esforço feito pelos músculos do tórax da criança para respirar, e pode ver-se como “afundamentos” do espaço abaixo do pescoço, entre as costelas, ou abaixo das costelas.
- Dificuldade alimentar: é habitual a criança diminuir um pouco o seu apetite em situação de doença, mas não é bom sinal quando recusa tudo ou praticamente toda a alimentação. Em termos de hidratação, para bebés mais pequenos podemos estar atentos às fraldas, uma grande redução da urina não é bom sinal.
- Prostração/irritabilidade mantida: novamente, crianças doentes estão frequentemente menos ativas que o habitual. Mas não é normal que estejam prostradas, pouco reativas, ou ao invés, muito irritadas.
- Cor azulada nos lábios: isto é o que chamamos de cianose, e resulta de uma oxigenação deficiente do sangue, pela dificuldade respiratória. Este sinal é uma verdadeira emergência, e obriga a procurar cuidados de imediato.
Lembre-se sempre, é você que melhor conhece o seu bebé. Se alguma coisa o preocupa ou não lhe parece dentro do esperado numa situação ligeira, é sempre melhor pecar por excesso e procurar o conselho de um profissional de saúde credenciado.
À medida que atravessamos esta época de vírus respiratórios, estar informado é a melhor ferramenta que os pais podem ter. Saberem a diferença entre uma constipação e uma bronquiolite, e reconhecer os sinais de gravidade, é fundamental para proporcionar os melhores cuidados às crianças. E lembre-se que o seu pediatra está lá para ajudar em cada passo deste caminho!
Deixo-vos algumas ligações que podem consultar para terem mais informações sobre a bronquiolite.
Folheto informativo sobre bronquiolite para pais da DGS
A bronquiolite aguda das crianças: o que fazer? – Texto para pais
Vídeo do site Healthychildrenorg, da responsabilidade da Academia Americana de Pediatria, que mostra os sinais de dificuldade respiratória
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