A tosse é um dos motivos mais frequentes de procura de consulta médica. E isto porque é apenas uma manifestação de várias doenças possíveis, e por si só funciona como mecanismo de defesa do organismo. A tosse consegue efetivamente ser um motivo de preocupação para os pais e cuidadores das crianças, porque por algumas vezes perturba bastante a criança, e o sono. Contudo, na maioria das situações a tosse acompanha as constipações, e funciona como foi dito já como um mecanismo de defesa. E mesmo quando nos parece, nas constipações, que a criança já está melhor, por vezes a tosse ainda fica durante mais algum tempo, cerca de uma a duas semanas. É a tosse que impede que as secreções cheguem ao pulmão, expulsando-as da via respiratória. Por isso é que habitualmente não recomendamos xaropes para parar a tosse, porque ao fazê-lo estamos a tentar acabar com um mecanismo de defesa do organismo que é muito importante. Sabemos que existem muitos e muitos xaropes de venda livre (e algumas receitas caseiras) disponíveis, mas alguns até podem fazer mal a crianças (é o caso de alguns xaropes para tornar as secreções mais “líquidas”, fazem com que as crianças acabem por ter mais secreções e mais dificuldade em mandá-las para fora). Mas não temos de achar que não há nada a fazer! Podemos tentar algumas coisas que podem ajudar. Como sabemos que na maior parte dos casos a tosse tem a ver com a presença das secreções na garganta (que acontece mais quando as crianças estão deitadas, porque “escorrem” as secreções para a parte de trás do nariz) devemos tentar desentupir/lavar bem o nariz, com água do mar ou soro. Se acharmos que o nariz está muito entupido, podemos tentar usar alguns descongestionantes nasais, por um curto período de tempo.
Outra medida que podemos tentar é inclinar a cabeceira da cama ligeiramente (cerca de 30º), usando uma manta por baixo do colchão (nunca devem ser usadas almofadas, ou alguma coisa que possa depois cobrir a cabeça do bebé) ou alturas por baixo dos pés da cabeceira da cama. Para bebés mais velhos ou crianças isto não costuma resultar muito, pois eles acabam por se mexer, e deixam de ter o efeito da cabeceira da cama levantada se escorregarem.
Num número mais pequeno de situações, a tosse é uma manifestação de outras doenças (como no caso das bronquiolites, ou das infeções do pulmão – pneumonias), e aí então acontece que temos de tratar a doença que está a causar a tosse, pois de outra forma esta não desaparece. Mas a tosse nestas situações acompanha-se de outros sinais, no caso das bronquiolites de dificuldade respiratória ou pieira (por exemplo), no caso das pneumonias de febre elevada que por vezes custa a baixar e/ou dificuldade respiratória… São alguns destes sinais que nos fazem suspeitar que a tosse se calhar tem a ver com outra doença, e nesta situação a criança deve ser sempre vista.
Depois outra situação é o contexto em que vivemos atualmente, em que temos uma pandemia de um vírus que se caracteriza maioritariamente por apresentar sintomas respiratórios, e daí a tosse poder ser uma manifestação de uma infeção COVID-19. Já não nos chegavam todas os outros vírus respiratórios ditos "normais" e agora ainda temos mais este a complicar a equação. Mas tirando tosses que são muito características (como por exemplo a tosse estridulosa, também chamada de tosse de "cão" na gíria popular, ou a tosse equivalente asmática, que é mais irritativa), nenhuma outra tosse detém a patente de nenhuma doença em particular. Infelizmente. Porque tudo seria mais fácil se assim fosse. Ora tu aqui tens uma tosse em si bemol ... certamente é uma bronquiolite. Tu uma tosse em fá sustenido... pois, sem dúvida é uma pneumonia. Era bom era... portanto, todos temos de trabalhar em equipa. Lembrar a importância das medidas de evitar o contágio dos aerossóis da tosse (o uso de máscara, o não tossir para a mão...) e não entrar em pânico com este sintoma que de tão frequente pode traduzir vários tipos de doença. Se pode ser COVID-19? PODE. Se é preciso ter cuidado pelo bem de todos? É. Mas até prova de culpa, a tosse é inocente, e nenhuma doença em particular detém o seu exclusivo.
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